“A única luta que se perde é a que se abandona”

Hebe Bonafini, Madres de la Plaza de Mayo

20 fevereiro 2013

VILA ITORORÓ: À ESPERA DE UM MILAGRE

Na próxima quarta feira, 20 de fevereiro, está agendada a última remoção de famílias da Vila Itororó.

A reunião com o 11º Batalhão da Polícia Militar já está programada para segunda feira, 18, às 15h00.

As oito famílias remanescentes serão forçadas a deixar o lar que habitaram por mais de 31 anos. A entrega das unidades habitacionais construídas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano está agendada para abril.

Até lá, essas famílias, que não recebem o bolsa aluguel da Prefeitura de São Paulo – embora a obrigação esteja prevista no convênio em que o Governo do Estado transfere a administração para a Prefeitura de São Paulo -, irão pro meio da rua, tal qual a música de Adoniran Barbosa.

As oito famílias que resistiram na Vila Itororó até hoje representam o último obstáculo a ser superado para a consolidação de um projeto de elitização do Centro da cidade de São Paulo.

Em virtude de seu valor arquitetônico e histórico, o prédio construído em 1920 foi tombado no ano de 2005 pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado. Em 2007, foi ajuizada a ação de desapropriação.

Nesse ínterim, a Vila se transformou no símbolo da disputa entre dois projetos de cidade.

De um lado, o projeto limpo e reluzente do Governo do Estado e da Prefeitura da capital de transformá-la em um centro cultural, voltado para o resgate da memória do bairro e da cidade. Nas entrelinhas desse projeto, a remoção da população pobre e a destruição de suas memórias, trato rotineiro e natural dedicado à população pobre pelas elites governantes.

De outro lado, parte dos moradores, diversas entidades e movimentos sociais se mobilizaram para atribuir uso misto à Vila: parte do prédio seria destinada ao centro cultural, outra parte seria destinada à habitação popular no Centro. A idéia contemplava o restauro do prédio e a destinação cultural com habitação popular.

Na próxima quarta feira, dia 20, o primeiro projeto se consagrará.

Finalmente, os moradores e moradoras remanescentes, pobres, deixarão de ‘atrapalhar’ a higienização e o embelezamento da Cidade de São Paulo.

Finalmente, será cumprida a decisão de remoção das famílias dada pelo Desembargador da 5ª Câmara de Direito Público, proferida nos autos do agravo de instrumento n.º 0192214-04.2012.8.26.0000, no qual concedeu ao Governo do Estado a liminar para a imissão na posse.

Essa liminar derrubou a decisão de primeira instância que acolheu o pedido dos moradores, representados pelo Escritório Modelo da PUC, para que se aguardasse a entrega definitiva das casas.

Até quarta feira, resta aos moradores e moradoras da Vila Itororó esperar que os governantes se sensibilizem com sua situação:

- que o Governo do Estado se manifeste no processo para que se aguarde a entrega definitiva das unidades da CDHU para a imissão na posse;

- caso o Governo do Estado se omita, que a Prefeitura conceda o bolsa aluguel às famílias, para que tenham o mínimo de recursos para procurar algum lugar para morar até a chegada das unidades da CDHU;

- que o projeto de elitização do Centro seja interrompido e a Vila Itororó se transforme em um espaço de cultura e de moradia popular.

Pedimos a todas as entidades, movimentos sociais, amigos e amigas que defendem um projeto popular de cidade, que divulguem esta carta em apoio aos moradores e moradoras da Vila Itororó.

Moradores e Moradoras da Vila Itororó
Escritório Modelo “Dom Paulo Evaristo Arns” da PUC-SP

Para assinar esta carta, envie email para:
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