“A única luta que se perde é a que se abandona”

Hebe Bonafini, Madres de la Plaza de Mayo

15 setembro 2009

A HISTÓRIA DA VILA ITORORÓ

A VILA ITORORÓ situa-se no bairro da Bela Vista, em São Paulo, entre as ruas Martiniano de Carvalho, Monsenhor Passalaqua, Maestro Cardim e Pedroso. Foi construída na década de 1920, pelo mestre de obras português Francisco de Castro.

A implantação da Vila Itororó representa um momento único de desenho urbano no bairro da Bela Vista e na cidade de São Paulo, no qual o conjunto de 37 casas e uma piscina se articulam por um pátio que é também, um eixo de circulação e o espaço de convivência e de encontro dos moradores.

Na década de 1950, quando da morte de Francisco de Castro, a Vila foi leiloada e arrematada por credores. Mais tarde, o conjunto foi doado à Instituição Beneficente Augusto de Oliveira Camargo – que ainda é considerada a proprietária da Vila Itororó.

Em 1976, os arquitetos Benedito Lima de Toledo, Cláudio Tozzi e Décio Tozzi desenvolvem um “Projeto de Recuperação Urbana da Vila Itororó” solicitado pela Prefeitura Municipal de São Paulo e pela então COGEP – Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano – de caráter sócio-cultural, focado nas atividades de lazer.

Na década de 1980 a Vila Itororó entra em processo de tombamento pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). Através da página da Prefeitura Municipal de São Paulo na internet, com acesso em 13 de junho de 2006, consta que a Vila Itororó “é tombada pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), é considerada um marco histórico, pois além de ser a primeira residência particular a possuir uma piscina na cidade de São Paulo, sua arquitetura também é ímpar.” [1]

Desde 1997 a proprietária da Vila Itororó – Instituição Beneficente Augusto de Oliveira Camargo – não se comunica com os moradores, que até então pagavam o aluguel normalmente; e a imobiliária que administrava o local deixou de enviar o boleto de cobrança. Segundo o atual provedor da instituição beneficente, “(...) a Vila Itororó foi tombada pelo patrimônio público, passando a não gerar qualquer recurso que pudesse ser empregado no hospital [Augusto de Oliveira Camargo – HAOC, administrado pela Instituição Beneficente].” [2]

Em outubro de 2005, a Secretaria de Habitação declarou que a Vila Itororó faria parte do Programa de Recuperação de Cortiços. Em 20 de janeiro de 2006, a Secretaria Municipal de Cultura (SMC) divulga a criação de um “pólo cultural” na Vila Itororó, e em 23 de janeiro seguinte, a Prefeitura declara a área de “utilidade pública para desapropriação” [3], retomando, e revisando pela SMC, a proposta da década de 1970.

É uma área que vai abrigar todas as coisas que pessoalmente gosto, dentre elas, um espaço para atividade de educação, cultura, turismo e lazer. Enfim, vamos fazer um centro cultural aberto para nossa população[4] – disse o prefeito, em 23/01/2006.

Em fevereiro de 2006, a Prefeitura Municipal de São Paulo cadastra as famílias da Vila Itororó e uma das propostas apresentadas aos moradores é o Programa Carta de Crédito / CDHU – financiamento para aquisição de imóveis prontos (com valores entre R$ 20 e 40 mil). No entanto, apenas 5 das 71 famílias residentes hoje, parecem ter renda para a aferição final – além de que, esta opção inviabiliza a compra de qualquer imóvel na região.

Portanto, desde 1997, quando a proprietária se afastou da administração do local “(...) as casas encontram-se degradadas, já que não há manutenção e existe, inclusive, ligações clandestinas de luz e água”, segundo o texto retirado da página da SEHAB na Internet. [5]

Com base em levantamento realizado pelo grupo de pesquisa em habitação Vida Associada em conjunto com o MosaIco (Escritório Modelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie), foram constatadas 71 famílias residentes no que se considera o conjunto da Vila Itororó (cerca de 250 pessoas), em 2006. Quase todas as edificações encontram-se subdivididas e há cerca de 15 unidades construídas posteriormente e 5 unidades originais já foram demolidas, segundo relatos de moradores mais antigos e por análise de documentação fotográfica. Do total de unidades habitacionais existentes hoje, a maioria também apresenta graves problemas relacionados às condições mínimas de moradia: estabilidade estrutural prejudicada, instalações hidráulicas e elétricas inadequadas, ventilação e iluminação insuficientes ou inexistentes, e coberturas precárias e em muitos casos, improvisadas.


[1] http://portal.prefeitura.sp.gov.br/noticias/sec/habitacao/2006/05/0001 acesso em 13/06/2006
[2]
http://www.haoc.org.br/fundacao.htm acesso em 13/06/2006
[3]
DECRETO Nº 46.926 de 23/01/2006
[4]
http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=7275 acesso em 13/06/2006
[5]
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/noticias/sec/habitacao/2006/05/000 acesso em 13/06/2006
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por Aline Fidalgo, Fabio Steiner, Felipe Moreira, Lizete Rubano, em 2006.
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